quarta-feira, 4 de novembro de 2009

1- Born to be wild


Like a true nature's child 
we were born
born to be wild 
we can climb so high 
I never wanna die 
born to be wild
born to be wild 


Bom, digamos que foi assim que começou a nossa viagem.
- Lah, eu vou me matar, cara – Alice anunciou enquanto almoçávamos no nosso apartamento.
- É algum motivo bom, pelo menos? – debochei, afinal sabia que vinha alguma besteira por aí.
- Não, eu to falando sério, eu não entendo as pessoas – ela fala, suspirando profundamente.
- Bom, eu já sabia que você não entendia, eu já tentei te explicar que aquela velha maluca do 401 não acha nem um pouco legal quando você grita comigo na escada, mas parece que você ainda não entendeu isso...
- Layla, pelo amor de Deus, foco na conversa – ela fala mal humorada. – Eu estou falando sério aqui.
- Certo, estou esperando a explicação lógica pra você querer se matar.
- Tudo bem, eis a questão, eu não agüento mais todo mundo achando que ta rolando algo entre o Bruno e eu – ela responde finalmente.
- E não ta?
- LAYLA!
- Ta parei – respondo rindo, fazendo-a rir também.
- Sabe o que me deixa mais chateada?
- Não, não sei – digo irônica.
- Todo mundo ficar esperando que eu faça algo como eles esperam, mas e se eu não quiser fazer? Poxa, não é só porque eu gosto de sair com um cara que eu tenho que ter segundas intenções, né? – ela fala chateada.
- Eu sei, mas não é sempre assim, todo mundo sempre espera que nós sejamos um produto sob medida – respondo, sendo séria pela primeira vez desde que a conversa começou.
- As coisas ainda estão na mesma com o Lucas? – ela pergunta, percebendo minha desanimação.
- Claro, nada muda com ele, as vezes eu acho que ele espera que eu desista dos meus sonhos pra ser a esposa ideal – respondo.
- Mas você não é assim, Lah, aliás, nós não somos assim. Sabe o que nós precisamos? De férias! – ela diz animada.
- Verdade, nem lembro a ultima vez que nós viajamos juntas – confesso, me animando.
- Eu não estou brincando, nós precisamos dá o fora dessa cidade por uns tempos, quem sabe assim todos vão ver que nós somos diferentes.
Eu a conhecia bem o suficiente pra saber que ela já estava fazendo os planos na cabeça, procurando o lugar mais louco pra começar.
- Eu só preciso arrumar minha mala e tirar dinheiro – declaro.
- Então, fechado? – ela fala estendendo a mão, exibindo uma tatuagem de raio no braço.
- Fechado – aperto sua mão e rimos, felizes.
Talvez o maior motivo da Alice e eu sermos amigas era porque nós duas éramos loucas. Ninguém nunca conseguia nos acompanhar quando resolvíamos aprontar, por isso, dois dias depois da nossa conversa no almoço eu estava com as malas prontas. Depois da conversa nada amigável que eu tinha tido com o Lucas, eu estava mais do que decidida que embarcar nessa viagem com a Lice era a melhor coisa que eu podia fazer.
Eu costumava dizer a Alice que não podia dizer que tinha encontrado o amor da minha vida sem ter percorrido o mundo, como eu poderia saber se ele não estava me esperando em um café na França? Ou pescando na Grécia? Definitivamente o amor da minha vida não era um advogado arrogante que queria criar raiz nessa cidade.
Chega de falar sobre amor, não estou embarcando em uma busca por um cara, estou embarcando em busca de muitos caras. Era assim que eram as nossas loucuras. Beber, seduzir e acordar com ressaca e rindo no outro dia e claro, nunca contar todos os fatos, porque eles sempre ficam bem guardados entre nós, quer dizer, até essa viagem.
- Que cara é essa? Não vai me dizer que desistiu – Alice perguntou quando entrou no meu quarto.
- Não, só estou pensando na nossa viagem – digo exibindo um sorriso, convencendo-a.
- Já decidi por onde vamos começar – ela anuncia e só então percebo umas páginas do Google maps impressas.
- Conta logo! – digo empolgada.
- MÉ-XI-CO – ela anuncia jogando as folhas na cama.
- Já vamos começar assim? Não quero nem ver como isso vai terminar – anuncio fazendo-a rir.
O México sempre foi o país em que nós planejamos nossas maiores loucuras e um dos poucos que nós não conseguimos ir. Na sala do nosso apartamento havia um grande mapa mundial onde nós marcávamos com tachinhas os lugares que já tínhamos ido, os meus com tachinhas laranja e os dela com tachinhas roxas formando um colorido legal no mapa.
- Então, como foi com o Lucas? – ela perguntou sentando ao meu lado.
- Não foi, acho que agora é definitivo – respondi calmamente, mas pelo canto do olho eu sabia que ela analisava a minha reação.
- Sabe, eu nunca achei que você fosse ficar com um cara tão careta por tanto tempo, quer dizer, você nasceu pra namorar um barmen gostoso, tipo aquele seu caso em Londres, lembra? – um sorriso surge no meu rosto nessa hora.
- Claro que eu lembro, tudo começou porque a gente não podia beber naquela época e eu tive que dar em cima dele pra gente poder aprontar, ele até te apresentou o amigo cantor dele – respondo e nós rimos juntas.
- Nós temos uns “quês” de Holly G. ... – ela anuncia, sabendo que eu continuaria e foi isso que eu fiz.
-... E precisamos de um James Dean por perto – completo rindo.
- Nosso mochilão foi fantástico, a gente devia voltar lá – ela diz sonhadoramente.
- Foi mesmo, acho que foram os melhores meses da minha vida – acrescento.
- Das nossas vidas! – ela completou.


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