quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

5 - You keep me hangin' on


Set me free, why don't cha babe Get out my life, why don't cha babe 'Cause you don't really love me You just keep me hangin' on You don't really need me But you keep me hangin' on

Eu estava em um pequeno barco no meio do mar, tudo parecia deserto ao meu redor, daquele jeito que você só vê em filmes ou propagandas de perfume assim como o cara que me beijava. Mas a luz do sol começou a ficar forte demais, tão forte que acabei acordando. Infelizmente. Comecei a me arrepender de abrir os olhos no mesmo momento em que o fiz, pois o sol me deixou parcialmente cega e minha cabeça doía como se eu tivesse sofrido um acidente de carro ou algo assim. Fechei os olhos novamente. Fora esse fato completamente novo para mim, que nunca tinha tido uma ressaca na vida, independente do quanto bebesse, eu simplesmente não conseguia me lembrar de nada.
Só um turbilhão de imagens desconexas que não faziam menor sentido. Lembro de musicas do Dean Martin, de jogar sinuca com a Ali e de dois caras completamente deliciosos, mas não entendia como todas essas cenas se encaixavam. Me mexi um pouco na cama e levei um susto, porque minha mão passou acidentalmente por algo que estava distante de ser a colcha da cama, pra falar a verdade, tava mais para um corpo gostoso. Abri os olhos novamente e quase gritei ao ver um dos caras da noite anterior dormindo ao meu lado. AI. MEU. DEUS.
Me levantei da cama o mais rápido que pude e mais uma vez me arrependi amargamente por ter esse tipo de idéia, porque fiquei tão tonta que tive que me segurar na mesa de cabeceira pra não cair. Estava mais do que na cara que eu realmente tinha aproveitado a primeira noite no México, não só porque as minhas roupas estavam espalhadas pelo chão, mas porque o quarto onde eu estava não era o que eu havia feito check in com a Alice e a pessoa deitada na cama DEFINITIVAMENTE não era a Alice.
Vesti a minha roupa o mais rápido que pude, mas antes que eu pudesse sair correndo do quarto mais rápido do que você conseguiria pronunciar “Ressaca”, meu celular começou a tocar. PUTAPORRAQUEPARIU. Às vezes eu acho que as bolsas tem um bolso invisível, que só é usado quando você precisa achar algo dentro delas e você está desesperada, porém, essas coisas só aparecem depois que você já acordou a pessoa desconhecida deitada na sua cama. Tudo bem que esse fato me fez soltar um suspiro aliviado por ele não estar morto (o quê? Podia acontecer, ora), mas me fez desejar estar morta. Já que 1) eu era incapaz de lembrar o nome dele e 2) eu devia estar mais vermelha que as minhas unhas.
A reação mais brilhante que tive foi, claro, ir até o banheiro pra  atender o telefone, adiando assim a conversa com o estranho-gostosão-demais.
- Alô – disse, me assustando com a minha própria voz.
- ONDE VOCÊ ESTÁ? – a voz da Alice gritou ao meu ouvido.
- Fala baixo, eu estou com dor de cabeça, caralho – sussurrei.
- Não acredito que você, finalmente, teve uma ressaca – ela parece rir agora.
- Isso é realmente relevante? – cortei-a.
- Não, na verdade o importante é saber onde você se meteu – ela insistiu.
- Você acha que se eu soubesse eu não já teria te dito, ou me mandado daqui? – respondi secamente.
- Tudo bem, descubra e me encontre no salão do hotel – ela falou.
- Espera – falei antes que ela desligasse na minha cara.
- O quê? – ela responde mal humorada.
- O que aconteceu ontem? – pergunto um pouco envergonhada e ela ri.
- Você acordou no quarto do Russel então – ela supõe.
- É esse o nome dele? – pergunto confusa e ela ri ainda mais.
- Você ta mais perto do que eu imaginava, me encontra no salão em dez minutos e eu te conto o que eu lembro – pelo ar dela eu tinha certeza que ela também não lembrava de muita coisa.
Respirei fundo e lavei meu rosto antes de sair pela porta do banheiro. Não pude esconder um sorriso ao dar de cara com aquele estranho agora quase vestido. Ele piscou aqueles maravilhosos olhos claros para mim, eu podia não lembrar como eu tinha chegado ali, mas com certeza sabia porque tinha chegado ali e não foi por causa da bebida.
- Bom dia – ele disse em inglês, com um sotaque forte.
- Bom dia, não queria te acordar, mas já estou de saída – falei séria.
Cara de pau? Imagina.
- Você já vai? – ele perguntou com um sorriso malicioso.
Tentei disfarçar um arrepio que passou pelo meu corpo e manter a compostura.
- Já, eu preciso me encontrar com a Alice – respondi.
- Nos vemos depois – ele falou quando eu já me aproximava da porta.
- É – in your dreams, completei em pensamento e entrei no elevador.
Depois de arrumar um pouco o cabelo e a roupa no elevador, eu amaldiçoei mentalmente a Alice por me fazer estar passando pela caminhada da vergonha, aquela onde você aparece em publico com a roupa que estava na noite anterior, com cara de quem não dormiu em casa e ressaca. Quando ela me viu escondeu um sorriso e veio falar comigo.
- Você está com uma cara ótima, amiga – ela debochou.
- Vai se ferrar – rebati. – Dá pra voltar pro quarto agora, eu não quero ficar andando pelo salão do hotel com a roupa que estava ontem.
- Ta com vergonha é? – ela provocou.
- Eu vou te deixar sozinha – falei, voltando para o elevador.
- Tudo bem, eu vou com você, mas só se você prometer que vai dá uma volta comigo, tomar um café – ela insistiu.
- Ta certo, mas me deixa pelo menos tomar um banho e lavar a vergonha do meu corpo, depois nós conversamos – conclui, fazendo-a rir.
Quarenta minutos e umas três trocas de roupa depois, finalmente conseguimos sair do hotel com o pretexto de tomar um café, mas eu não queria porcaria de café nenhum, eu queria mesmo era saber o que tinha acontecido ontem e porque a Alice tinha se safado sem a caminhada da vergonha.
- Será que eu posso saber o que aconteceu ontem? – perguntei de cara, assim que sentamos à mesa.
- Até onde você lembra? – ela perguntou com um sorriso.
- Bom, até a hora que nós fomos jogar sinuca, depois eu só lembro de umas musicas do Dean Martin tocando e de conversar vagamente com o “Russel” – respondi fazendo aspas no ar.
- Tudo bem, eu admito que eu não lembro muito depois disso, mas ao contrário de você eu acordei no nosso quarto – ela fala rindo.
- Eca, me diga que não foi na minha cama – completo, horrorizada.
- Não, chatinha. De qualquer forma, o Gibson pareceu mais sensato e não quis me matar de vergonha, mas ele deixou um bilhete falando que a noite foi ótima – ela riu me entregando o pedaço de papel amassado.
- Que pena, nem foi na mesa de sinuca – falei rindo e ela me deu um tapa no ombro.
- Idiota – ela diz séria, mas eu sei que ela está fazendo um esforço descomunal para não rir.
- Tudo bem, não precisa fica triste, quem sabe na próxima – provoco-a.
- Você sabe que não está em vantagem aqui, senhora eu-não-sei-com-quem-dormi – ela rebate rindo e acabo rindo junto.
- Eu não imaginava que íamos começar tão bem a viagem – um sorriso estampou o meu rosto ao falar isso.
- Verdade e ela está só começando – ela falou animada. – Espera, você ainda não falou como saiu do quarto do Russel despercebida.
- Quem disse a você que eu saí despercebida? – rebati, rindo.
- Como foi afinal? – ela perguntou curiosa.
- Ora, na cara de pau, falei que tinha que ir e pronto – disse e nós rimos.
- Meu Deus, você se supera a cada dia – ela riu.
- O que você esperava que eu fizesse? Espancasse a camareira, vestisse a roupa dela e saísse dizendo que já tinha trocado as toalhas? Hm, acho que não – respondo sarcástica.
- Daria uma ótima novela mexicana, ta mesmo entrando no clima, hein? – ela debochou.
- Com certeza – digo bebendo o ultimo gole do meu café.
- Vamos, eu quero dá uma volta na cidade antes de decidirmos nossa próxima aventura – ela fala me arrastando.
- Ta, agora dá pra me soltar? – resmungo.
- Nossa, mas você ta ranzinza demais pra alguém que teve uma noite maravilhosa – ela debocha.
- Quando eu tiver uma noite fantástica E lembrar dela, aí eu vou acordar animada – rebato fazendo-a rir de novo antes de sairmos pelas ruas no “nosso” carro.


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